Ir. Policarpo Varela, O. Cist.
O Silêncio Monástico

Um dos elementos essenciais para que realmente exista vida monástica é o silêncio, mas não apenas um silêncio com mera ausência de palavras ou o silêncio por si mesmo, e sim um silêncio que tem uma finalidade. Para o monge, o silêncio deve proporcionar a escuta da Palavra de Deus que lhe fala ao coração, pois é no silêncio que escutamos a voz de Deus. Nosso Pai São Bento em sua Santa Regra dedica um capítulo inteiro a este tema, o capítulo VI. Logo no início do texto podemos observar a importância do silêncio para as nossas vidas; é feita a exortação para se guardar a fala até das coisas boas e mais ainda das ruins, pois não é no muito falar que fugiremos do pecado; como diz o livro dos Provébios: “A morte e a vida estão no poder da lìngua”. São Bernardo, em seus escritos, faz um comentário aconselhando aos monges terem cuidado com a língua, pois sendo um orgão tão pequeno, pode nos levar para o inferno.
Mas o que é o silêncio? Qual a sua origem, e para onde nos conduz? Qual é a graça que dele emana?
De um lado, o silêncio se exprime diante da Beleza contemplada. Ele habita o coração no mais profundo amor. Exprime da melhor forma a contrição. Ele abre o caminho para oração e nos conduz no mistério de Deus, revelando sua presença oculta.
Por outro lado, também exprime as maiores dores, marca o sofrimento sentido através da provação da solidão e da ausência, esconde a revolta, o rancor, a inveja, a amargura, exprime a indiferença e oculta a dúvida.
O silêncio pode ser falso quando é birrento, carrancudo, taciturno; ou ainda rígido, meramente disciplinar ou sistemático; ou simplesmente inércia. Quando assim sendo, só nos resta lutar contra isso e tentar expulsá-lo, como se fosse aquele “demônio que mantinha um homem mudo” no Evangelho (Mt 9,32).

O silêncio verdadeiro é aberto, passível, benevolente! Então ele pode alegrar, construir, dinamizar e conduzir a alma a uma vida de total interioridade, trazer a calmaria ao coração, elevar o espírito na oração e mergulhar o próprio corpo na paz. Como não amar e desejar este silêncio, do qual nós já pressentimos sua riqueza e sua força? Mas onde encontrar o silêncio justo e verdadeiro, o silêncio bom e belo do qual nossa alma sedenta tanto deseja conhecer o caminho e a fonte?
O verdadeiro silêncio habita o coração de Deus. Para conhecê-lo, portanto, é preciso contemplá-lo em Deus. Deus é silencioso, porém também é palavra: aqui está a grande maravilha que habita em nosso coração. A Palavra de Deus está revestida de silêncio, brota dele e a ele conduz. E seu silêncio exprime o seu mais profundo amor. “Deus só pode ser bem compreendido no siêncio interior”, escreve o beato Columba Mamior, monge beneditino.