Abadia Cisterciense de Jequitibá
Santo Estevão Harding

O terceiro fundador e abade de Cister, o inglês Estevão Harding, viveu uma trajetória de vida muito intensa, desde seu nascimento na Inglaterra, por volta de 1059, portanto antes da invasão normanda chefiada pelo Duque Guilherme, até sua morte no dia 28 de março de 1134, já como abade emérito de Cister, muito avançado em anos e debilitado por uma cegueira, o que, aliás, foi a razão de sua renúncia ao cargo abacial um pouco antes daquela data.
Discorrer sobre sua vida é, também, falar sobre uma santa inquietação, como no caso de S. Roberto. Estevão foi monge beneditino em Sherborne, na sua terra Natal. Porque teria deixado seu mosteiro de profissão ainda jovem e se dirigido à França, onde aprofundou sua formação nas escolas famosas de seu tempo? Questões de ordem política e familiar, ligadas à nova situação criada com a invasão normanda, pertencendo ele à nobreza do povo vencido, os saxões? Os estudiosos inclinam-se para esta hipótese. O fato é que os traços de Estevão aparecem depois numa peregrinação a Roma em companhia de um santo monge, obrigando-se ambos a rezar um saltério inteiro por dia. Teria ela conhecido os novos mosteiros reformados na Itália? Teria depois vivido como eremita antes da peregrinação? O que é certo é que ingressou em Molesmes em 1085, já então uma abadia de fama reconhecida. Sabe-se também que pertenceu ao grupo daquela abadia que desejava a reforma e que acabou por deixá-la, com o abade Roberto à frente, para fundar Cister, do qual, por sua vez, tornou-se o terceiro abade, após o falecimento de Alberico em 1108.
Seu longo abaciado foi de uma fecundidade excepcional. A semente plantada pelos seus sucessores deu fruto abundante, pois Estevão, por assim dizer, multiplicou a herança recebida. O pequeno rebanho, deixado em paz na nova observância por Alberico, crescerá de forma prodigiosa, sobretudo com o ingresso de Bernardo e seu grupo de 30 companheiros. Estevão os acolheu e formou. Principalmente deste grupo veio uma grande expansão para a Ordem, uma vez que, a partir de 1119, com a aprovação de suas normas fundamentais, o mosteiro de Cister tornou-se a cabeça de uma nova família monástica reconhecida pela Igreja, com diversos mosteiros, inclusive aqueles fundados pelas casas diretamente surgidas de Cister.
Para conhecer o espírito de Santo Estevão, dois escritos são fundamentais e são como que seu testamento espiritual. O primeiro é o prólogo do chamado Exordium Parvum, o documento que narra o empenho da geração de pioneiros em fundar Cister com todo o vigor dos ideais do monaquismo reformado de sua época. O segundo, talvez mais significativo, é a Carta Caritatis (Carta da Caridade), que pode ser considerado o documento fundante da nova Ordem. Como o nome indica, este trata da caridade: caridade fraterna que se deve viver no interior de cada comunidade cisterciense, e também a que deve ser vivida no plano do relacionamento entre os mosteiros. É claro que, para Estevão, a austera observância e todas as normas que inculcavam pobreza, simplicidade e solidão, só tinham sentido em vista de seu propósito supremo: tornar as casas cistercienses escolas de caridade.