Passos para uma frutuosa Lectio Divina

10/12/2023

"Eu armazenei a Palavra de Deus como se armazena comida. A Palavra de Deus é um pão vivo, o alimento da alma"

(São Bernardo, Abade de Claraval, Doutor Melífluo)

A Lectio Divina é um dos métodos de oração mais antigos na história da Igreja. Ela foi consagrada na Santa Regra de Nosso Pai São Bento e se tornou uma das principais peculiaridades da vida monástica.

Esta expressão latina, Lectio Divina, sugere uma leitura orante da Palavra de Deus, uma maneira profunda de se relacionar intimamente com Nosso Senhor. Consiste na prática de oração e leitura das Sagradas Escrituras. É um dos meios mais adequados e necessários para a vida dos monges. Constitui uma parte essencial da conversatio monástica, um dos instrumentos tradicionais mais característicos para buscar a Deus.

Todos são chamados a fazer esta experiência de intimidade com o Senhor através de Sua Santa Palavra. Santa Terezinha do Menino Jesus dizia, em período de aridez espiritual, que quando os livros espirituais não lhe diziam mais nada, ela buscava no Evangelho o alimento de sua alma. O Papa Bento XVI fez a seguinte observação num discurso de 2005: "Eu gostaria, em especial recordar e recomendar a antiga tradição da Lectio Divina, a leitura assídua da Sagrada Escritura, acompanhada da oração que traz um diálogo íntimo em que a leitura, se escuta Deus que fala e, rezando, responde-lhe com confiança a abertura do coração".

A Lectio possui um propósito triplo: 1) conhecer a Deus em Seus termos, 2) discernir Sua vontade e 3) chegar ao "bem supremo: o conhecimento de Jesus Cristo" (Filipenses 3,8). Descreveremos a seguir um passo-a-passo, a fim de oferecer um método prático para uma frutuosa Lectio Divina:

Escolha um texto bíblico.
Defina a duração da oração.
Busque um lugar tranquilo e agradável que te ajude a concentrar-se.
Encontre uma boa posição corporal.

Faça silêncio interior e exterior.
Respire lentamente, suavemente.
Tome consciência de que está na presença de Deus.
Faça com devoção o sinal da cruz.

Peça a Deus Nosso Senhor para que todos os seus desejos, pensamentos e sentimentos estejam voltados unicamente para o seu louvor e serviço.
Peça a graça que verdadeiramente deseja receber de Deus.

Tendo feito bem essa preparação prévia, é chegado o momento de iniciar, de fato, a Lectio Divina; que está estruturada em quatro degraus ascendentes, aos quais nos serão caminho para uma profunda intimidade com Nosso Senhor Jesus Cristo, são: Lectio, Meditatio, Oratio e Contemplatio.

Escolha um texto bíblico. Leia-o várias vezes, devagar, saboreando as palavras que mais te afetam; deixe ele ecoar algumas vezes dentro de você. Lembre-se que Deus está falando contigo, aqui e agora.

Procure esmiuçar a passagem, ruminando-a. Reflita porque esta palavra te chama a atenção. Encontre passagens paralelas em outros livros da Bíblia; as notas de rodapé são de boa ajuda. Busque discernir como o texto está desafiando você hoje, talvez desafiando seus vícios, seus falsos ídolos, o seu lado não-convertido.

De acordo com Santa Teresa D'Ávila, oração é um diálogo. Deus fala e nós respondemos através das palavras do texto no melhor que pudermos.
Converse com Deus como com um amigo: fale, escute, agradeça, peça, louve, pergunte, silencie, seguindo os sentimentos experimentados na oração.

Leia o texto novamente, saboreando o que pode ter deixado escapar nos degraus anteriores. A contemplação também pode ter o significado de ver tudo e todos pelos olhos de Deus. Ao final, anote o que foi mais importante na Lectio; pensamentos, questionamentos, sentimentos, como se sentiu, etc.

Guigo, um monge obscuro do século XII, se volta para uma metáfora, explicando os quatro degraus como quatro momentos conectados e correlacionados. "A leitura traz à boca alimento sólido, a meditação mastiga esse alimento, a oração saboreia e degusta, e por fim a contemplação é como a doçura refrescante e que traz alegria". E então, ele explica em palavras claras: "a leitura é o exercício exterior, a meditação é o entendimento interior, a oração é o desejo, e por último, a contemplação ultrapassa toda a experiência sensível".