V. Dom Alois Wiesinger: o fundador do Mosteiro de Jequitibá

24/02/2024

Em 6 de janeiro de 1939, o abade Aloísio viajou para o Brasil para trabalhar com seus confrades como missionário. A saída foi motivada por sua forte oposição ao nacional-socialismo, pois, se permanecesse, teria de contar com a prisão. Esse aspecto uniu-se ao antigo desejo missionário de fundar novo mosteiro em terras de missão. Chegando na Região de Jequitibá, Município de Mundo Novo, Bahia, tornaram-se, ele e seus companheiros, suspeitos de espionagem pela população, que se alvoroçou com a entrada do país na guerra.

A preparação da construção das instalações do novo mosteiro iniciou oficialmente em 18 de dezembro de 1941, quando o engenheiro Emilio Odebrecht fez uma visita in loco para conhecer o ambiente dos futuros fundamentos, bem como planejar os orçamentos. Dom Aloísio registrou com grande alegria este feito pois, finalmente, Dona Isabel Tude havia decidido iniciar as obras das estruturas físicas. Contudo, este ânimo duraria não mais que três meses, quando em 20 de fevereiro de 1942 todos os monges foram convocados a se apresentarem à polícia de Mundo Novo. Neste período a Segunda Guerra Mundial continuava a marcar a história de Jequitibá. Três meses após responderem à convocação, receberam a visita do delegado de Mundo Novo. Ele havia recebido uma denúncia de que em Jequitibá haviam espiões de Hitler. Escreveu ele, no Livro de Tombo do Mosteiro de Jequitibá:

"Nos visitou o delegado da polícia de Mundo Novo por causa de uma denúncia, que nós padres tivéssemos um canal subterrâneo com estação de rádio. (Canal da transmissão na serraria e carpintaria para movimentar as máquinas)".

A aversão aos alemães ou descendentes tornou-se extrema de tal modo que os monges experienciaram isto intensamente, fosse nas frequentes visitas policiais ou nas reações agressivas que continuaram sofrendo. Dom Aloísio foi ameaçado de apedrejamento e linchamento e, no dia de São Bernardo de Claraval, tendo terminado de celebrar a Missa Solene em Jacobina, quis retornar à Jequitibá e não conseguiu embarcar na locomotiva porque os passageiros o expulsaram. Escreve ele, no Livro de Tombo do Mosteiro de Jequitibá:

"Cinco navios comerciais foram afundados na costa do Brasil; por isso, a excitação no país é grande, o ódio contra os 'gringos/estrangeiros' aumenta cada vez mais. Por ocasião da festa de S Bernardo fui em Jacobina, celebrei uma missa festiva lá. Na véspera, ouvimos falar da declaração de guerra a Alemanha. Eu queria voltar de trem para Jequitibá, em vez de ir a Salvador. Não podia: o povo não me deixou viajar no trem, 'me botou pr'a fora'. Viajei a cavalo por Tanquinho, Mucambo e Palmeirinha, tornando-me suspeito como espião, parando-me e interrogando-me. Finalmente deixaram-me continuar a viagem, mas não ousei passar por Mundo Novo, onde também uns horrivelmente 'fermentaram' contra mim. Muito cansado cheguei em Jequitibá na terça-feira, 25 de agosto".

A transferência da Pedra Fundamental e uma nova escavação simbólica foi feita por ele em 26 de junho de 1942, um dia após celebrar o seu Jubileu de Prata. Foi uma cerimônia bastante discreta, como ele mesmo conta:

"No domingo [26] foi transferida a 'pedra Fundamental', aquela que há anos foi colocada; novo documento foi redigido, porque o velho estava todo estragado; e feito neste dia a primeira 'Escavação' [...]. Muita gente estava presente, 60 homens e 28 mulheres".

Depois de algumas pausas nos trabalhos da obra devido a estes acontecimentos relativos à II Grande Guerra que também atingiram Jequitibá, a construção foi sendo postergada até que em 21 de dezembro de 1942 recomeçaram e seguiram firmes. Em novembro de 1944 a primeira ala do edifício estava concluído, faltando apenas alguns acabamentos elétricos, pintura e marcenaria. Após três meses, aqueles últimos detalhes foram resolvidos e em fevereiro de 1945 o prédio ficou pronto. A vida monástica alinhada à vida missionária, social e educacional estavam nascendo e se desenvolvendo em Jequitibá. O impulso havia sido dado e as bases necessárias construídas. Por hora, nesta Terra de Vera Cruz, a missão do abade Wiesinger estava cumprida.

Quando a guerra terminou, ele retornou para Schlierbach, em 1946. Jequitibá conseguiu se desenvolver ainda mais, sob o governo do abade Antonio Moser que fora seu Prior em Jequitibá durante os quatro primeiros anos. Em 1950 o mosteiro, então Priorado Simples, foi elevada à categoria de Abadia, graças a mediação de Dom Aloísio.

Tendo completado os seus benditos dias terrenos e cumprido a sua missão, Dom Aloísio Wiesinger partiu para a Eternidade repentina e inesperadamente no final da tarde do dia três de Janeiro de 1955. Suas memórias em Gabelsberger-Kurzschrift (taquigrafia cursiva alemã) estão nos Arquivos da Abadia de Schlierbach, onde foi dignamente sepultado.


Dados monásticos:

  • Vestição ao Noviciado: 16 de julho de 1905
  • Ordenação Presbiteral: 1 de agosto de 1909
  • Eleição Abacial: 24 de julho de 1917
  • Bênção Abacial: 25 de julho de 1917
  • Lema: Major autem Caritas – A Caridade é maior. 

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