I. Dom Alois Wiesinger: um reformador enérgico

03/01/2024

Pode-se ser monge e missionário ao mesmo tempo? A vida religiosa contemplativa em um monastério e o trabalho missionário podem ser vividos de maneira que ambos possam se desenvolver frutuosamente?

O abade Aloísio Wiesinger, O. Cist. é sem dúvida um dos mais importantes promotores do ideal missionário na Ordem de CisterO ideal missionário, que se tornou um movimento missionário na Ordem Cisterciense, teve um impacto duradouro nesta Ordem e às vezes a abalou.

Hoje os Cistercienses estão muito mais fortemente representados em áreas não europeias do que na Europa.

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Alois Wiesinger nasceu em Magdalenaberg, na Alta Áustria, em 1885. Filho do diarista Franz Wiesinger e sua esposa Maria, cresceu em circunstâncias modestas, para não dizer pobres. Com o apoio de parentes bem-intencionados e, acima de tudo, de seu pároco, ele pôde estudar no vizinho Stiftsgymnasium Kremsmünster. Depois de terminar o colegial, ingressou no Mosteiro Cisterciense de Schlierbach em julho de 1905. No outono de 1906, começou a estudar teologia na Faculdade Teológica da Universidade de Innsbruck. Foi seminarista no Seminário Sankt Nicolai Konvikt (hoje Collegium Canisianum). Após três anos estudando teologia em Innsbruck, foi ordenado sacerdote em agosto de 1909. Estudou por mais três anos na mesma universidade e recebeu seu doutorado em 1912; e foi o primeiro monge cisterciense de Schlierbach, em trezentos anos, a fazer seu doutorado em teologia.

Contatos importantes com missionários ou líderes de igrejas nas missões eram, muitas vezes, feitos por meio da Casa Nicolai dos Jesuítas. Após o doutorado, foi capelão temporário por um curto período e depois, até sua eleição abacial, professor no Instituto Teológico de Heiligenkreuz. Ele continuou seu trabalho acadêmico no campo da teologia fundamental, mas também no ensino social da Igreja, até quase o fim de sua vida.

No verão de 1914, viajou para Lourdes para o Congresso Eucarístico e foi detido na França, por causa da eclosão da guerra. Sendo padre, foi autorizado a passar os nove meses seguintes, até abril de 1915, nos mosteiros trapistas franceses: La Trappe (agosto a setembro de 1914) e Timadeuc (setembro a abril de 1915). Nestes mosteiros conheceu pessoalmente a vida monástica dos Cistercienses da Estrita Observância. Num deles, recebeu o livro L'ame de tout ApostolatA Alma de Todo Apostolado – do Abade Trapista Dom Jean-Baptiste Chautard do Mosteiro de Sept-Fons, que então teve uma influência significativa no seu direcionamento espiritual. A tradução alemã de Wiesinger da obra de Chautard foi publicada em 1921 sob o título "Innerlichkeit. Das Geheimnis des Erfolges im apostolischen Wirken, München 1921" – "Interioridade. O segredo do sucesso no trabalho apostólico, Munique 1921", a tradução só apareceu em 1921 porque ele não se atreveu a levar o manuscrito da França para a Áustria por causa da guerra. Enviou-o, portanto, para um arquivo romano, onde se perdeu e só foi reencontrado em 1919. Por intervenção do Vaticano, pôde retornar a Heiligenkreuz em abril de 1915, onde retomou suas atividades de ensino e também foi pároco em Gaaden. A vida monástica dos trapistas, como ele a conhecera na França, era agora um modelo para o jovem abade de muitas, se não todas, maneiras.

Em 1917, o padre Aloísio, com apenas 32 anos, foi eleito o décimo quarto abade da Abadia de Schlierbach, e o foi até a sua morte. Renovou o seu mosteiro economicamente (fabricação de queijos, vitrais) e espiritualmente (oração do coro), e também trouxe prosperidade em termos de membros. Foi em seu abaciado que o Mosteiro de Schlierbach alcançou o seu maior número de todos os tempos (mais de 50); Um total de 126 homens ingressaram de 1917 a 1955, 64 dos quais permaneceram por toda a vida. Em 1921, o abade Wiesinger introduziu o Instituto dos Irmãos Leigos, que ele veio a apreciar na França e que não era muito difundido na Áustria. Para tanto, enviou dois noviços conversos para serem treinados no Noviciado dos Irmãos da Arquiabadia de Sankt Ottilien, na Alta Baviera. Os dois conversos foram logo seguidos por outros (havia 29 em 1938) e o Instituto logo foi imitado por outros mosteiros cistercienses austríacos, mas o desenvolvimento foi interrompido pela Segunda Guerra Mundial. Em 1925 havia 21 padres, 4 clérigos e 2 irmãos leigos (irmãos conversos) em Schlierbach. Em 1938 havia 27 sacerdotes, 12 clérigos, 2 noviços e 29 irmãos leigos. Como sinal externo de sua devoção ao Sagrado Coração de Jesus, que provavelmente remonta aos seus dias de estudante jesuíta em Innsbruck, ele dedicou o mosteiro e suas paróquias ao Sagrado Coração de Jesus em 1920, por ocasião do reassentamento de Schlierbach, 300 anos atrás.

Desde o início ele tentou a renovação monástica de seu mosteiro, especialmente para eliminar alguns resquícios do josefinismo (sistema político-religioso, de governação césaro-papista: "poder temporal e espiritual no governante", da igreja estatal na Áustria). Ele foi rapidamente reconhecido dentro da Congregação Cisterciense Austríaca como um reformador enérgico e acusado de um zelo furioso pela reforma por ter assumido "a mais extrema observância Trapista". Uma certa simpatia pela vida religiosa estritamente monástica não pode ser negada devido a contatos próximos, especialmente com trapistas franceses. Outra preocupação importante para Wiesinger era a consolidação econômica do mosteiro. A situação financeira do mosteiro, particularmente tensa no período entreguerras, influenciou posteriormente a fundação da missão que se vislumbrava.

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Continuação no próximo post: o abade missionário